O GABA é um neurotransmissor, uma substância química que permite a comunicação entre as células nervosas (neurônios) no cérebro. Ao contrário de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato, o GABA é inibitório, o que significa que ele reduz ou regula a atividade neuronal. Essa função é crucial para evitar a hiperatividade cerebral, que pode levar a síndromes como transtornos de ansiedade, epilepsia e insônia.
Quando o GABA é liberado por um neurônio, ele se liga a receptores específicos em outro neurônio, principalmente os receptores GABA A e GABA B. Esses receptores são responsáveis por desencadear uma série de processos bioquímicos que resultam na inibição da atividade neuronal:
· Receptores GABA A: Funcionam como canais de cloreto. Quando o GABA se liga a esses receptores, eles permitem a entrada de íons cloreto na célula, tornando-a mais negativa e menos propensa a disparar sinais nervosos.
· Receptores GABA B: São receptores acoplados a proteínas G que ativam cascatas intracelulares, diminuindo a excitabilidade do neurônio por outros mecanismos.
FIGURA 1 – Estrutura química do ácido gama-aminobutírico (GABA). Adaptado de http://www.compoundchem.com, 2019
Como o GABA é produzido?
O GABA é sintetizado a partir do glutamato, que é o principal neurotransmissor excitatório do cérebro. A enzima chamada glutamato descarboxilase (GAD) é a responsável por converter o glutamato em GABA. Esse processo ocorre principalmente nos neurônios GABAérgicos, que armazenam o GABA em vesículas para liberação durante a sinalização neuronal.
Depois que o GABA é liberado na fenda sináptica e cumpre sua função, ele é recaptado pelas células nervosas e gliais por meio de transportadores específicos. Isso permite sua reutilização e garante a homeostase no sistema nervoso.
FIGURA 2 – O ácido gama-aminobutírico (GABA) reduz a excitabilidade das membranas das células nervosas ao promover uma mudança conformacional no receptor GABAA e possibilitar o aumento do influxo de íons cloreto. Outras sustâncias, como fármacos benzodiazepínicos (BZD), também modulam o efeito do GABA no receptor GABAA através da ligação aos sítios alostéricos. Adaptado de JACOB et. al, 2008. e RUDOLPH; KNOFLACH, 2011.6,7
O papel do GABA na saúde mental e física
A importância do GABA vai muito além de apenas amenizar a excitação cerebral. Níveis equilibrados de GABA estão associados a uma boa qualidade de sono, redução do estresse e melhor concentração. Por outro lado, uma deficiência desse neurotransmissor pode estar ligada a uma série de condições, como:
· Ansiedade e transtornos de humor: Níveis baixos de GABA estão relacionados à sensação de inquietação e estresse.
· Insônia: O GABA ajuda a relaxar a mente, facilitando o sono profundo e reparador.
· Epilepsia: A falta de inibição adequada pelo GABA pode levar a crises epilépticas.
· Transtornos neurodegenerativos: Condições como a doença de Alzheimer podem ser influenciadas por alterações na sinalização GABAérgica.
Medicamentos e suplementos que modulam o GABA
Devido ao seu papel central no sistema nervoso, o GABA é alvo de diversos medicamentos e suplementos:
· Benzodiazepínicos: Medicamentos como diazepam e lorazepam aumentam a eficácia do GABA nos receptores GABAA, sendo amplamente usados para tratar ansiedade, insônia e convulsões.
· Barbitúrios: Embora menos usados hoje em dia devido ao risco de dependência, também atuam potencializando o efeito do GABA.
· Suplementos de GABA: Disponíveis em farmácias e lojas de produtos naturais, esses suplementos prometem melhorar o sono e reduzir o estresse. No entanto, sua eficácia é debatida, pois o GABA pode ter dificuldade em atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro).
· Agonistas do GABA: Medicamentos como o baclofeno (usado para tratar espasticidade muscular) imitam o GABA, ativando seus receptores diretamente.
GABA na dieta: é possível aumentar os níveis naturalmente?
Embora o GABA seja produzido principalmente no cérebro, algumas estratégias dietéticas podem ajudar a otimizar sua produção e função:
· Alimentos ricos em glutamato: O glutamato é o precursor do GABA. Fontes naturais incluem tomates, cogumelos, queijos fermentados e peixes.
· Chá verde: Contém L-teanina, um composto que pode aumentar os níveis de GABA no cérebro.
· Alimentos fermentados: Produtos como kimchi e iogurte contêm bactérias que podem produzir GABA.
Conclusão: o impacto do GABA no bem-estar
O GABA é um componente vital do sistema nervoso, garantindo o equilíbrio entre excitação e inibição no cérebro. Sua importância para a saúde mental e física é inquestionável, e compreender como ele funciona pode ajudar tanto na prevenção quanto no tratamento de várias condições. Se você está considerando suplementos ou medicamentos relacionados ao GABA, lembre-se de consultar um profissional de saúde para garantir uma abordagem segura e eficaz.
Referências Bibliográficas:
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